quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Vanessa da Mata lança livro e diz que doença na infância a fez ser escritora.

cantora fala sobre 'A filha das flores', seu romance de estreia.
Ela defende autorização para biografias: 'Acho completamente invasivo'.

A cantora Vanessa da Mata (Foto: Divulgação/Renato Parada/Cia das Letras)

Após interromper sua produção autoral para divulgar em julho um disco em homenagem a Tom Jobim, a cantora Vanessa da Mata está lançando seu primeiro romance, "A filha das flores", pela Companhia das Letras. O livro traz a história de Giza, uma menina que vive numa cidade de interior com a família que cultiva e vende flores. Em entrevista ao G1, Vanessa conta que criou o livro em menos de dois anos. "Quando eu começo a escrever não consigo parar. Realmente tive um despejo de ideias muito intenso", diz.
A protagonista de "A filha das flores" vive em um universo semelhante ao da infância da cantora em Alto Garças, cidade do Mato Grosso, onde nasceu em 1976. Vanessa, no entanto, conta que sofreu muito quando criança. "Perdi um rim, tive toxoplasmose, febre reumática, cólicas renais absurdas. O que eu tinha de remédio para não entrar numa depressão infantil era ler, daí começou a ideia de querer escrever um dia", afirma.
A cantora ainda revelou que deve lançar seu próximo álbum em maio de 2014. "Gosto muito desse disco, eu o considero um dos meus melhores". Sobre a polêmica das biografias, Vanessa se coloca a favor do grupo Procure Saber, junto a artistas como Caetano Veloso, Djavan, Chico Buarque, Roberto Carlos, Erasmo Carlos, entre outros. "Acho completamente invasivo. É como se você fosse colocado numa praça pública, chega um cara que pode invQual sua relação com esse Brasil rural, do interior, que aparece tanto em suas músicas, como agora no livro?
Vanessa da Mata - Minha relação é total, eu cresci nele. Tenho uma intimidade, um respeito e uma liberdade que eu acho que só acontece no Brasil rural, que é quando você está nos melhores anos da sua vida, com tanta energia, descobrindo o mundo, e você tem a liberdade de percebê-lo com mais nuances, mais colorido. 

Isso é o que teria de biográfico nesse livro?
Vanessa da Mata -
 Sim. Eu fui uma criança muito doente, entre quatro e 12 anos, e, por causa disso, desenvolvi uma imaginação fértil para poder sair do meu universo que era triste. Perdi um rim, tive toxoplasmose, febre reumática, que me fez tomar benzetacil durante muito tempo, cólicas renais absurdas. Foi muito punk. O que eu tinha de remédio para minha existência ficar mais divertida e não entrar numa depressão infantil era ler, o que não era um hábito familiar, e, felizmente, tive uma escola que dava livros para ler. Isso foi ótimo para mim, pois foi descobrir um mundo que naquele momento era muito mais fácil de morar. Daí começou a ideia de querer escrever um dia. Lembro de tomar banho, ficar toda arrumadinha na porta de casa, pegar um livrinho de cabeça para baixo, fingindo que estava lendo na frente das pessoas. Era como se estivesse tomando um passe, recebendo poderes.
Com tantos shows pelo Brasil, quando você arranjou tempo para escrever?
Vanessa da Mata -
 Com as viagens fica tudo mesmo atribulado e difícil, mas eu tenho insônia. Troco muito os horários, e, geralmente, quando começo a escrever não consigo parar. Então, é no avião mesmo ou durante o tempo de espera, que é muito nessas viagens. Eu realmente tive um despejo de ideias muito intenso. Não conseguia parar de escrever durante o dia todo, sem conseguir comer, dormir até que aquilo fosse completamente despejado e sentir um alívio. Escrevia no trajeto entre um lugar e outro, à noite após meus filhos irem dormir. Daí eu parava durante um tempo, lia de novo tudo o que tinha escrito e retomava a escrita. Mas não era o tempo inteiro, nem conseguiria fazer isso o tempo inteiro. Demorou quase dois anos isso.
Agualusa escreveu "esta escritora vem da música e isso se percebe pela atenção ao ritmo e à melodia das frases". Como você trabalha com literatura e música?
Vanessa da Mata -
 Acho que existe mesmo um ritmo diferente, cada palavra tem a sua música. Eu percebo muito a melodia de cada palavra. Gosto das palavras, da descrição de como o personagem anda, de como ele fala, dos gestos, e é uma relação com a poesia talvez, com os detalhes. A letra é muito diferente de um livro. Ela é formada com caracteres certos, e com uma métrica muito posicionada para que a melodia encaixe muito bem em cima dela. Eu tenho uma letra mais desenhada para caber naquela melodia, geralmente eu adapto a letra à melodia. É diferente de um livro, em que você tem todo o espaço que quiser no mundo para criar a história que você quiser, mas tendo coQuais são seus hábitos? Quais autores você gosta de ler e que te influenciam?
Vanessa da Mata - Eu gosto muito de Machado de Assis. Li tudo sobre Machado. Amo Guimarães Rosa. Gosto de Manoel de Barros, que tem muito a ver com meu universo, pela maneira de falar sobre a natureza. Mario Quintana pela simplicidade que descreve o mundo. Lygia Fagundes Telles. Dos contemporâneos, Mia Couto, Agualusa.meço, meio e fim, por favor, e isso já é uma diferença gigantesca.
O título inicial era "Os olhos têm ouvidos no jardim da minha casa". Por que a mudança para "A filha das flores"?
Vanessa da Mata -
 Na verdade, "A filha das flores" foi o primeiro título que eu coloquei meio que de improviso, mas as pessoas acharam que era um título mais curto, que ilustrava mais a história. O outro era um título muito bonito, mas atrapalharia de certa forma para as pessoas se lembrarem do nome, não contextualizava muito e não explicava muito o que era o livro.
Com essa questão das biografias sendo tão discutida, como você se posiciona em relação ao grupo Procure Saber?
Vanessa da Mata -
 Eu sempre cuidei muito bem da minha vida privada. Não sou deputada ou qualquer pessoa que trabalhe com dinheiro público, que tenha a vida privada pública. Acho completamente invasivo. Tem um monte de coisa que eu não posso fazer porque criticam e, para mim, não vai ser legal, vai afetar meu trabalho. Eu me cuido muito. Eu não vou para tal lugar e chamo fotógrafos. Por isso eu acho bom ter autorização. Tem gente que não se importa em vender a imagem. Eu não suporto invasão. É como se você fosse colocado numa praça pública, chega um cara que pode inventar qualquer coisa. Ele escreve de uma maneira pouco sofisticada, coloca seu nome, vende e ainda ganha dinheiro.
Depois da homenagem ao Tom Jobim, você está trabalhando em um disco novo?
Vanessa da Mata -
 Sou workaholic. Tenho um disco pronto já desde dezembro e que deve sair em maio do ano que vem. Deixei de trabalhar nele por causa de tudo o que rolou, mas ele já está pronto. Eu gosto muito desse disco, e o considero um dos meus melhores discos de carreira, é bastante diferente do que já fiz. Acho que ele vai fazer um contraponto muito bom com o disco do Tom ["Vanessa da Mata canta Tom Jobim"].
Lançamento de "A filha das flores"
Rio de Janeiro

Quando: Terça-feira, 12 de novembro, às 19h
Onde: Livraria da Travessa - Shopping Leblon (Av. Afrânio de Melo Franco, 290 - 2º piso)
São Paulo
Quando:
 Terça-feira, 19 de novembro, às 19h
Onde: Livraria Cultura - Conjunto Nacional (Av. Paulista, 2073)



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