quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Prestes a completar um ano em Los Angeles, Seu Jorge conta como é a vida na ponte Brasil-EUA

Seu Jorge posa com as filhas em Los Angeles Foto: Reprodução de Instagram

RIO - No início do ano, Seu Jorge desembarcou em Los Angeles com as filhas e a mulher para uma temporada na cidade sem data para acabar. Perfeitamente instalados em uma espaçosa casa num bairro badalado da cidade, o cantor e compositor de 43 anos vive agora na ponte aérea Brasil-EUA. No Rio desde o mês passado, ele participa das filmagens de “Pelé, birth of the legend”, onde interpreta o pai do craque. A produção hollywoodiana, dirigida pelos irmãos americanos Jeff e Michael Zimbalist, conta a história do maior jogador da História até a Copa de 1958 e terá lançamento mundial em maio de 2014.
Autor de hits chicletes, como “Burguesinha” e “Mina do condomínio”, o cantor tornou-se extremamente popular depois que gravou com Ana Carolina, em 2005. Desde então, mantém cheia a agenda de shows também fora do país. Em outubro, fez apresentações com casas lotadas em três cidades de Portugal e em Luanda, na Angola.
Criado no Gogó da Ema, uma comunidade do município do Belford Roxo, Seu Jorge teve uma vida bem difícil. Começou a trabalhar em uma borracharia para ajudar a família ainda criança, e aos 19 anos, saiu da casa e viveu pelas ruas dos bairros de Vila Isabel e Méier. Hoje, é amigo de uma penca de celebridades, mantém um Porsche na garagem e quer mudar também o destino dos irmãos e sobrinhos, que têm o estudo patrocinado por ele. Seu Jorge falou nesta entrevista sobre a carreira e a vida fora do Brasil. E, sobretudo, sobre a família - ele vive com a mulher Mariana e as filhas Luz Bella e Flor de Maria, mas recebe visitas da terceira, Maria Aimée, que mora com a mãe em São Francisco.

A sua experiência nos Estados Unidos mudou o seu olhar em relação ao Brasil?
Sim. Até acho que estou mais triste em relação à situação do Brasil. Há muito potencial para pouca vontade. Tem coisas que acontecem aqui que ganham repercussão mundial, como assaltos e outras barbáries. A questão da desigualdade é grave e gostaria muito que houvesse um aprofundamento sobre esse debate. Vim de uma família pobre, mas consegui vencer. Quase ninguém tem essa oportunidade. Por outro lado, acho que os protestos tiveram uma repercussão até positiva lá fora. A história dos 20 centavos foi resolvida e voltamos ao estado natural, de luta, que lembra quando o povo brasileiro saiu às ruas contra a ditadura, o movimento das diretas e o dos cara pintadas. As reclamações são legítimas.

O seu tempo hoje é dividido em trabalhos como cantor e ator. O que você prefere fazer?
Eu amo cantar, mas atuar tem um lado especial para mim. Nos últimos anos tive a oportunidade de participar de grandes projetos e me orgulho muito dos filmes que fiz. Na música, eu controlo tudo. Posso escolher o que cantar, onde vou fazer o show e o que vou gravar. Mas no trabalho como ator eu não posso fazer isso. No cinema, não controlo nada e esse é um grande desafio para mim. Quando digo sim tenho que estar no set pronto às sete da manhã, se for preciso. E sem reclamar.

Você é hoje um artista popular, reconhecido nas ruas e também amigo de celebridades internacionais. A que você credita essa virada na sua carreira?
Eu nem vi quando aconteceu, sabe? Foi uma coisa que nunca imaginei ou planejei antes. O que eu intuí para a minha vida era completamente diferente. Em 2005, tudo mudou por causa do disco que gravei com a Ana Carolina, que é uma artista muito amada, e que acabou me trazendo um público novo. Junto a isso, acredito que a minha mudança para São Paulo, no ano anterior, tenha colaborado também. Antes eu era mais um artista nativo e com características típicas do Rio de Janeiro. Em São Paulo comecei a ampliar os meus horizontes.

Quando você olha para trás e lembra o que passou, o que vem à cabeça?
Eu só penso que tenho que continuar cada vez com mais energia. Como disse, nada disso que aconteceu na minha vida foi planejado. Cada realização que acontece me deixa mais forte, me joga mais para frente. O equipamento principal da minha carreira sou eu mesmo e tenho consciência total que tenho que estar disposto para retribuir essa admiração que recebo das pessoas. Às vezes é muito difícil para mim, principalmente quando tenho que ir para a estrada. Porque tenho preguiça de arrumar a mala, sair de casa, pegar o avião e viajar. E quando isso acontece, respiro fundo e penso: “Ok, here we go”.

O que você faz quando tem tempo livre?
Gosto de pintar. Uso tinta acrílica para fazer rostos e paisagens. Na pintura também sou autodidata. Aprendo observando e buscando ajuda nos tutorials que acho na internet. Mas o que mais gosto mesmo é ficar com as minhas filhas e isso tenho conseguido quando estou em Los Angeles. Aliás, fui para lá para vê-las crescerem de perto. Aqui não consigo parar. As minhas três filhas têm veia artística forte. Cantam, dançam e cada uma toca um instrumento: flauta, piano e violão. Claro que não vou forçar que elas escolham a carreira artística. Elas têm todas as facilidades e uma vida muito diferente da que tive, mas faço questão de lembrá-las o que passei e da onde vim.

No seu caso, estar em Los Angeles pode ajudar bastante se quiser investir mais na carreira internacional.
Eu não fui para os Estados Unidos para conhecer ninguém ou pleitear nada. Eu fui para buscar segurança e educação para as minhas filhas. Não sei ainda quanto tempo fico lá, mas a verdade é que minha turma está bem aclimatada à nova vida. Levamos nosso staff brasileiro para ajudar e estamos bem felizes. Los Angeles é um lugar que, definitivamente, pode proporcionar grandes oportunidades para mim, mas se eu vou tê-las, não sei. De qualquer maneira, tenho um manager para me representar lá fora.

Como está o seu inglês?
Falo bem francês e quero investir cada vez mais no inglês. Durante as filmagens do filme do Pelé tenho um coach que me ajuda com o idioma. Em casa, minhas filhas me corrigem.

Em que você investe o dinheiro que ganha?
Ajudo a minha família. Comprei apartamento, pago faculdade e tudo mais que eles precisarem. Investi na formação de um dos meus irmãos, que acabou de terminar a faculdade de Direito, e na das minhas sobrinhas. É uma nova geração da minha família que merece ter as oportunidades que não tive. Tenho certeza que eles vão tirar muita onda. E também sou dono de uma fábrica de cerveja, a Karavelle, e de dois bares, em São Paulo. Sempre mexi com empreendedorismo. Afinal, eu fiz a minha carreira, né? E isso não é uma coisa tão fácil de fazer, não, ainda mais sem a figura de um empresário por perto, como foi no início. Eu sempre acreditei na minha gestão.

E quais são seus próximos projetos?
Depois que terminarem as filmagens no Rio, tenho alguns shows para fazer aqui no Brasil e devo gravar o clipe da música “Festa brasileira”, que fiz para a seleção de futebol, e que gostaria que tivesse a direção de Spike Lee. Em dezembro volto para os Estados Unidos e lá, o único compromisso que tenho é a luta de Anderson Silva, que vou ver no fim do ano em Las Vegas. Ele é meu vizinho e virou um grande amigo. No ano que vem, em abril, vou para Islândia rodar o filme “Soundtrack”, um projeto meu com o Selton Mello e os diretores Bernardo Dutra e Manitou Felipe da Silva, do 300 ml. É a mesma turma que fez o “Tarantino’s mind”, curta em que contraceno com o Selton. Dessa vez, o filme vai ser todo em inglês e conta a história de um artista plástico que pede autorização para ir para um campo de pesquisa na Antártica. Sou ator e idealizador do projeto, o que me deixa muito animado, mas também, tenho que confessar, dá frio na barriga de fazer.

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