sexta-feira, 5 de abril de 2013

De mãe para mãe: Uma boneca pode namorar outra boneca?


Em tempos de Feliciano comprometendo os avanços na Comissão de Direitos Humanos, acho importante nós, pais e educadores, lançarmos as sementes da igualdade de gêneros, raças, credos, opções sexuais desde cedo.

Por Ana Kessler 2/abr 02:32
Hoje vou tratar de um tema polêmico para muita gente. Infelizmente, a homossexualidade ainda é tabu na nossa sociedade. Não deveria. O assunto deveria ser encarado com naturalidade e, sobretudo, conversado em casa, junto aos filhos, sem chacota, menosprezo ou ridicularizações. Tenho a esperança de que um dia chegaremos nesse grau de evolução, no “Amai-vos uns aos outros” sem preconceitos. Pelo menos aqui em casa é o que procuro passar para a Ana Bia.

O tema veio à tona numa reunião entre amigas, onde uma delas contou que a melhor amiguinha da filha é negra e adotada por um casal de lésbicas. E que as mães da menina são superdiscretas e não assumem abertamente a relação, pois temem represálias à filha e sofrer constrangimentos. É triste admitir, mas elas estão certas, o mundo é cruel com os “diferentes” (apesar desses “diferentes” serem milhões!).
Me solidarizei com essas mães guerreiras, que se dedicam com amor e carinho à criança, suprem com todo esforço e autodoação que nós mães sabemos que nos custa para criar um filho, colocaram-na numa excelente escola, acompanham cheias de zelo o seu crescimento, educam, levam ao médico, à pracinha, varam madrugada acordadas quando ela fica doente, enchem-lhe de mimos, do bom e do melhor, e não podem exibir a filhota com o peito cheio de orgulho. Que tristeza! Então é errado amar incondicionalmente? E amar, simplesmente?
Muito se fala da ausência da figura masculina (ou feminina) e da importância do papel do pai (ou da mãe) nessas relações. Claro que os dois papéis são importantíssimos e têm um peso enorme na formação de uma criança. Mas então também não seriam vistos com bons olhos os pais separados, certo? E as mães solteiras? Foi-se o tempo, né! Destes tabus já nos livramos.Quantos anos ainda levaremos até nos darmos conta de que uma criança saudável é aquela que se sabe amada?
Outra imensa discussão é em torno de se a pessoa torna-se gay por genética ou por opção. Pais temem que seus filhos se "desviem". Para mim, esse assunto é tão irrelevante que morre mesmo antes de nascer. O que eu tenho a ver com a orientação sexual de outra pessoa? Minha filha vai deixar de ser ela mesma se preferir meninas? Que bobagem. Eu gostaria que se metessem na minha vida dessa forma, me dizendo que o que sou e minhas escolhas são “erradas”? Claro que não! Então, sob a lei universal “não faça aos outros o que não gostaria que lhe fizessem”, simplesmente não julgo. Não é um ser humano igual a mim? Amor verdadeiro não combina com preconceito.
Quando a Bia tinha 5 anos e morávamos no Rio, um dia entrei no quarto bem quando ela e uma vizinha discutiam calorosamente sobre quem casaria primeiro com o Ken, o namorado da Barbie. Só havia um boneco, mas umas 20 bonecas, e elas decidiam como “repartir” o moço entre as duas. “Eu caso de manhã e você de noite”, disse, por fim, a Bia. E a amiga aceitou.
Eu não ia me meter, mas achei uma ótima oportunidade para levantar alguns questionamentos entre elas. Instiguei: “Ué, vocês vão dividir o mesmo namorado? Isso pode?”. As duas concordaram que sim, nenhuma se importava. “Será que não existe uma forma de cada Barbie ter um amor só seu? Tem tanta boneca aí...Por que uma não namora o Ken e a outra, outra Barbie?”. Aí foi a vez de elas perguntarem: “Mas pode?”. Devolvi a questão: “Ué, por que não?”. Então a paz reinou naquele castelo imaginário. E no meu coração também. Antes união entre o mesmo sexo do que bigamia.

Em tempos de Feliciano comprometendo as conquistas e os avanços sociais, como o casamento gay, na Comissão de Direitos Humanos, acho importante nós, pais e educadores, lançarmos dentro de nossos lares as sementes da igualdade de gêneros, raças, credos, opções sexuais desde cedo. Se somos livres pensadores, temos liberdade de escolher nossos próprios caminhos, sempre com respeito ao próximo e boas intenções. O que importa é ser uma pessoa do bem, solidária, gentil, honesta, com caráter e índole inabaláveis. É preservar a família, seja ela constituída da forma que for. É votar em representantes que lutem por leis inclusivas, que valham para todos. E, sobretudo, ensinar nossos filhos a amar e serem amados. Sem distinção. 

E você, o que pensa do assunto?

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