sexta-feira, 7 de março de 2014

Entenda por que Ucrânia e Rússia brigam pelo controle da Crimeia


Forças russas bloqueiam a base ucraniana em Perevalnoye, Crimeia
Os problemas começaram em novembro, quando multidões começaram a ir as ruas da capital ucraniana Kiev, para pressionar o então presidente ucraniano .

Manifestação começou como reação indignada ao rompimento com a União Europeia e ao estreitamento das relações com a Rússia.

Ucrânia vive crise econômica e política; manifestações de rua se radicalizaram desde o fim do ano passado
De um lado, uma crise econômica e um país que precisa de empréstimos de US$ 35 bilhões para evitar uma falência estatal; do outro, uma crise política causada por um problema de identidade: se aproximar da União Europeia ou ser parte do plano de Vladimir Putin de construir uma União Eurasiana?
A Ucrânia está dividida: a metade ocidental é pró-europeia, enquanto a metade oriental é mais ligada à Rússia. “Há pelo menos duas culturas que tentam coexistir dentro de uma nação”, destaca o cientista político da Universidade de Rhode Island Nicolai Petro.
Em Kiev, está sendo decidido não apenas o destino da Ucrânia, mas as fronteiras de uma Europa que quer chegar às portas da Rússia.
Antes de recusar assinar um acordo de livre comércio com a União Europeia, Viktor Yanukovich se alinhou com uma proposta mais generosa de Vladimir Putin: US$ 15 bilhões para investir em infraestrutura e mais US$ 2 bilhões anuais em abatimento no preço do gás que a Rússia fornece e do qual a Ucrânia é totalmente dependente.
Maioria da população da Crimeia é de origem russa; entenda conflito
O cientista político e professor de relações internacionais de Escola Superior de Propaganda e Marketing Heni Ozi Cukier explica que a Crimeia se tornou foco de tensão entre Rússia e Ucrânia porque a região nunca pertenceu propriamente à Ucrânia, mas durante a Guerra Fria, ela foi anexada, porque a União Soviética controlava tanto a Ucrânia quanto a Crimeia. E hoje, a maioria da população da Crimeia é de origem russa.
Ucrânia dividida (Foto: GloboNews)
“É um ponto estratégico para os russos, porque você tem uma base naval importante, onde está a frota do mar de saída para o Mar Negro. Para os russos controlarem a Crimeia, é muito fácil. A pergunta-chave é: onde os russos vão parar? Será que eles vão se satisfazer em anexar a Crimeia ou ajudar sua independência, ou vão partir para outras partes da Ucrânia, principalmente o leste, que está muito mais aliado à Rússia?”, questiona o cientista político.
Heni Ozi acrescenta que os russos nunca aceitaram que a Crimeia não fizessem parte de seu território, porque a Crimeia fazia parte da Rússia há muito tempo.
Fornecimento de gás e petróleo é o grande trunfo da Rússia
A crise na Ucrânia, centro de uma disputa entre Europa e Rússia, envolve o gás natural, que abastece um quarto do continente europeu. Os russos estabelecem o preço e com frequência ameaçam suspender o fornecimento. Em 2006 e em 2009, eles fizeram isso.
O enviado especial da GloboNews Marcelo Lins explicou, da Sibéria, a questão econômica. “A confusão que tomou conta dos mercados financeiros mundo afora nos últimos dias parece dar bem a dimensão dos potenciais efeitos de uma crise ucraniana prolongada. Qualquer observador mais atento pode perceber que a posição russa nesse momento está longe de ser das melhores. Por mais críticas que recebam do Ocidente, Moscou tem na verdade essa carta valiosíssima na manga que é formada pelo petróleo e gás”, destaca o enviado especial.
Marcelo acrescenta que, em alguns casos como na Alemanha, o volume de gás natural fornecido pela Rússia passa dos 40%. “A Alemanha tem a noção bem clara do quanto depende das Rússia no que diz respeito às suas necessidades energéticas e sabe muito bem que a interrupção do fornecimento de gás russo teria efeitos catastróficos sobre a sua economia. O aumento dos preços de óleo e gás nos últimos dias e a desvalorização do rublo, que fez os exportadores russos ficarem mais competitivos, não deixou a Rússia em condições piores”.
Em entrevista, Putin mostrou-se calmo e disse que não fez nada ilegal
Nesta terça-feira, 4 de março, Putin disse que Ucrânia sofreu golpe de Estado. Ele pareceu determinado em demonstrar que mantém a calma e o controle da situação e disse que não tem a pretensão de ter de volta a Crimeia anexada ao território russo, que não quer forçar uma divisão da Ucrânia, nem quer declarar guerra aos vizinhos.
Putin disse que concorda com todas as demandas e as críticas feitas na ruas pelos manifestantes que ocuparam Kiev por dias. E foi até mais além, dizendo que o presidente deposto, Viktor Yanukovich, cometeu muitos erros e que havia no país um histórico de corrupção preocupante. Disse que aceitou recebe-lo e abrigá-lo no território russo por razões humanitárias. Ao mesmo tempo, afirmou discordar da forma como o governo de Yanokovich.
Putin afirmou ainda que, por mais que a Rússia esteja determinada em manter boas relações econômicas e políticas com a Ucrânia, até agora Moscou não tem em Kiev um interlocutor legítimo. Citando as manifestações pró-Rússia na Ucrânia, afirmou que o governo interino não controla todo o país e destacou a importância de que todos os ucranianos sejam ouvidos sobre os rumos que querem dar ao país. Bianca Rothier relembra as 24 horas que passou em Kiev
A correspondente da GloboNews na Suíça, Bianca Rothier, esteve em Kiev no dia 19 de fevereiro. Ela conta que havia controle nos principais acessos à capital e que a polícia tentava barrar manifestantes de outras regiões que queriam chegar à Praça da Independência.
No fim daquela quarta-feira, o governo e a oposição assinaram uma trégua, que foi ignorada pelos manifestantes. Eles exigiam que Yanukovich deixasse imediatamente o poder. Na manhã do dia seguinte, atiradores de elite com armas automáticas abriram fogo contra os manifestantes, que revidaram. Muitos feridos foram levados para o hotel onde estava a imprensa. Bianca conta que o saguão parecia um necrotério. Onze corpos foram contados na recepção. Bianca Rothier passou 24 horas em Kiev e presenciou o dia mais sangrento no país desde o fim da União Soviética.
Leia mais no site: http://g1.globo.com/globo-news/noticia/2014/03/entenda-crise-na-ucrania.html


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